[sou abençoado]


Levi Nauter
Prefiro andar de ônibus a dirigir meu carro. É menos estressante e me possibilita ler um bom livro ou ouvir músicas. Num trajeto de duas horas o que não se pode é ficar sem fazer nada.

Dia desses, distraí-me e comecei a olhar os carros que aguardavam o sinal tornar-se verde. Gente papeando, arrumando a gravata, retocando o batom, entre outras tarefas. De repente, um adesivo chamou minha atenção: sou abençoado.

Fiquei imaginando o que pensaria sobre bênção alguém carregando um adesivo desses. Seria ter um carro? Dirigi-lo? Um outro automóvel exibia que o carro era “100% de Jesus” (o que não acredito). Isso significa não pagar IPVA? Ou seria ‘podem roubar que Deus dá outro’?

Não encontrei respostas. Apenas pensei comigo mesmo uma série de coisas.
E eu, sou abençoado?

Naquele instante eu ouvia uma das mais novas promessas da música brasileira: Maria Gadú. Ela interpretava – e muito bem – os mestres Chico Buarque e Edu Lobo com A história de Lilly Brown, ainda por cima terminava fazendo uma citação à ‘Pantera cor-de-rosa’.

O disco que leva seu nome é uma obra: foto de bom gosto, músicas bem mixadas e o som está primoroso. Belos arranjos – puxando para o acústico. Merece destaque a versão intimista da popular Baba, sucesso na voz da Kelly Key. O violão dá o tom e o ritmo, enquanto a voz rouca trabalha com primor e ousadia nos contratempos rítmicos. Ne me quitte pas ganhou uma versão tango com direito a gaita e tudo. Ficou ótima. Essas três músicas fizeram-me lembrar da saudosa Cássia Eller, uma cantora que sempre dava um toque especial, todo seu, ao que fazia. A Gadú também faz isso.

É um deleite ouvir a canção Tudo diferente. O jogo de palavras é interessante em Lounge. Mas o dueto de Laranja é espetacular, assim como os arranjos. Repeti muitas vezes a canção-hino Dona Cila. Ai, que saudade me deu da minha mãe. Essa música trouxe uma série de boas lembranças da minha velha guerreira. À mãe devo meu gosto pela musical.

Nosso país tem essas belezas. Quando menos se espera surgem nomes expressando o nosso cheiro, os nossos ritmos, nossos instrumentos; a nossa poesia. Não me restou dúvidas...

...sou abençoado! Nasci brasileiro.

1 comentários:

Anônimo sexta-feira, outubro 16, 2009 9:45:00 AM  
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Sobre este blog

Para pensar e refletir sobre o cotidiano de um cristianismo que transcende as quatro paredes de um templo.


"Viver é escolher, é arriscar-se a enganar, aceitar o risco de ser culpado, de cometer erros" [Paul Tournier]

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LEVI NAUTER DE MIRA, doutorando em educação (UNISINOS), mestre em educação (UNISINOS) e graduado em Letras-português e literatura (ULBRA). Tenho interesse em livros de filosofia, sociologia, pedagogia e, às vezes, teologia. Sou casado com a Lu Mira, professora de História, e pai da linda Maria Flor. Adoramos filmes e séries.

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