Desde os meus 21 anos estou envolvido com o mundo religioso. Sem arrogância, posso afirmar que aprendi bastante sobre seus bastidores, sacristias e porões. Dizer que aprendi não significa que sou inteligente, esperto ou genial, apenas que me enfronhei nesse ambiente.
Aprendi que os religiosos, como os demais espaços institucionais, geram as” panelas” do poder. Geralmente acontece assim: alguém alcança o topo da hierarquia e se acompanha de amigos que desfrutam as benesses da posição. Os outros ambicionam chegar lá, onde o poder, a reputação, os privilégios, são diferenciados. Começam, então, as futricas. A curriola que domina faz de tudo para preservar-se e quem almeja subir, se esforça para suplantar os figurões, seja conspirando ou procurando mostrar-se mais ungido.
Aprendi que os religiosos confudem fé com credulidade e ficam furiosos quando contestados. Acreditar é sagrado, mesmo que não faça sentido ou não tenha plausibilidade com a vida. Os religiosos sabem transformar circunstâncias banais em “testemunhos fantásticos” e se contorcem para explicar tragédias horrorosas como mais um “mistérioso propósito de Deus”. (Por exemplo, estar atrasado para um compromisso e conseguir passar por três sinais de tränsito abertos é um milagre, mas a morte de milhares de crianças em Darfur, um mistério; “o barro não pode questionar o oleiro”).
Aprendi que os religiosos não têm coragem de ser honestos com suas crises internas. Mentem para si e para os outros citando textos da Bíblia, tirados do contexto e incoerentes com a experiência existencial. Tentam enganar-se repetindo que são exitosos no que fazem e experimentam; não admitem que suas vidas são, muitas vezes, uma meia-sola, mera recauchutagem da felicidade. Os religiosos adoram transformar os cultos em arenas, onde brincam de guerra ou em palcos, onde encarnam personagens míticos poderosos. Isto é, na igreja comportam-se como Hércules, que estraçalha seus inimigos ou como Fênix, que sempre ressurge das cinzas com maior vigor. A realidade, porém, os esbofeteia; negam precisar de terapia psicológica como qualquer mortal; morrem, mas não admitem que tomam ansiolítico.
Aprendi que os religiosos não levam suas lógicas até às últimas consequências. Eles temem perguntas que geram outras perguntas. Aliás, questionar entre os religiosos é sinal de rebeldia e rebelde tem parceria com o demônio. Os religiosos se sentem satisfeitos de citar um versículo (sempre fora do contexto) e dizer que, se “a Bíblia afirma assim e assim, ninguém deve entristecer a Deus com perguntas impertinentes”. Satisfeitos e acomodados com a interpretação dada por algum teólogo, contentam-se com os textos que lhes soam convenientes.
Aprendi que os religiosos só são amigos de quem pensa igual a eles. O que ousar desafiar algum dogma, torna-se persona non grata, pior que leproso dos tempos medievais. Experimentei na pele esse tipo de ojeriza. Amigos que pareciam legitimamente afetuosos, de repente, sem jamais conversarem olho no olho, passaram a espalhar sórdidos boatos a meu respeito. Rubem Alves tem razáo, os religiosos nunca mataram um pecador, eles só assassinam os que consideram herege. Estou convencido que muitos só não me mataram porque cometeriam um crime. O ódio que os alimenta, porém, é real.
Aprendi que os religiosos são egoístas e só consideram relações ensimesmadas com o divino. Eles buscam bênçãos, milagres, intervenções sobrenaturais, para terem vantagem na árdua e perigosa aventura de viver. Caso alguém diga que a resposta às suas preces precisaria se conectar com toda a humanidade; com os miseráveis nos campo de exilados, com as crianças africanas que passam fome, a resposta seria: “E eu com isso?. Os religiosos se isolam da sorte humana. Egocêntricos, não conseguiriam explicar a graça e a justiça divina, caso recebessem o que acabaram de pedir.
No final dos meus 54 anos, aprendi sobre religião o suficiente para distanciar-me dela. Por isso procuro, constantemente, manter-me apaixonado pelo Evangelho. Afinal de contas, os religiosos conspiraram e mataram Jesus.
Soli Deo Gloria