Pouco se pode fazer. Outro dia tive uma idéia: a Lu ficaria na fila enquanto eu daria uma volta. Deu certo. Pra variar, visitei uma loja de CDs e uma livraria. Havia muita gente no balaio de CD; uma enxurrada de baixa qualidade poética e harmônica, para meu gosto, claro. Lembrei das livrarias evangélicas. Com raras exceções, os CDs mais vendidos têm, em geral, baixa ou nenhuma qualidade poética, melódica; porém, os preços são do alto. Até parece que o ‘irmão’ proprietário assim pensa: “é agora que vou tirar meu pé do barro e aumentar meu dízimo”. Cassiane, Marcus Witt, Michael W. Smith (com seu típico americanismo de fazer sempre mais de uma versão da mesma produção coisas. Por isso, Worship 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9...), entre outras celebridades ‘góspeis’. Felizmente, nos balaios, se bem procurarmos, conseguiremos bons achados – já comprei Guilherme Kerr, Pedra Coral, bem como Rita Ribeiro, Nei Lisboa, Chico César e até Chico Buarque. Por que mais não-cristãos do que cristãos? Possivelmente porque livraria evangélica não gosta de balaio e, ainda por cima, poucas dão desconto. Deve ser culpa da obra...
Retomando o que dizia, enquanto a Lu ficava firme e forte na fila eu, após bisbilhotar a loja musical fui para outra, não menos musical (as palavras são tão lindas quanto a música, possuem ritmo, ginga). Adoro livrarias e sebos. Cheirar, alisar, folhear ou simplesmente olhar um livro já é um privilégio. Todavia, algumas decepções foram inevitáveis. Muito livro espírita. Sei que devo respeitar a diversidade pós-moderna e humana, o que não entendo é como gostar de algo cujo teor já se sabe desde o princípio da leitura. Noutra prateleira, as bobagens do desvendamento. Há uma mania humana de querer desvendar ou dar receitas sobre todos os aspectos da vida, tanto terreais quanto metafísicos. Ando inquieto com essa busca frenética por desvendar, desmentir (e tantos outros sinônimos) o Código da Vinci. São crentes e não crentes querendo, no fundo, uma fatia financeira desse bolo. Na seção de revistas, uma fofocada atrás da outra; o ensino do ponto cruz; as dez melhores da playboy; as mais isso, as mais aquilo.
Um pouco cansado, tomei fôlego e continuei. Vendas. Títulos mais ou menos assim: ‘o vendedor pit bull’; ‘sete alguma coisa do vendedor altamente eficaz’; os clássicos Pai Rico, pai pobre. Como enriquecer? Comprando os títulos das prateleiras. Ah, ‘quem mexeu no meu queijo (para adulto, jovens e crianças)’; Arte da guerra (para homem e para mulher). Ufa! Cansei.
Não agüentando mais, descobri que Jesus estava sendo um bom negócio. Olhei pra cima: Jesus, o maior psicólogo que já existiu; Jesus, o maior líder que já existiu. Olhei, digamos, para o meio: O monge e o executivo (a história de um cristão) e, na mesma onda, Como se tornar um líder servidor. Adiante, Se eu quiser falar com Deus; Os segredos do Pai-Nosso. Ainda havia uma série na qual cada obra iniciava com o título O Mestre: O Mestre dos Mestres, O Mestre da Sensibilidade, O Mestre da vida, O Mestre do amor, O Mestre Inesquecível – todos enfocando algum aspecto de Jesus. Quando não agüentava mais a raiva, terminei lendo o título As cinco pessoas que você encontra no céu
Saí brabo da livraria. Sentei num banco (que não tinha dinheiro) e pensei: “bah, Deus, por que eu não tenho umas idéias assim pra ganhar dinheiro? Como Deus, em sua sabedoria e soberania
Fiquei mais intrigado: e por que eu não ando pra frente? Será que a saída poderá ser montar uma igreja? Afinal, aqui no Sul já está se tornando moda.
[ii] Todas as obras citadas nesse parágrafo são da editora Sextante.
[iii] Lc 11.49; 1 Co 1.23 e 24, 2.7; 1 Tm 6.15; Jd 1.4.
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