[pais e filhos] - texto 16 - levi nauter


Levi Nauter





...os filhos são herança do Senhor ( Salmos 127.3)





Antes de tudo, fica a minha homenagem à maravilhosa banda de rock Legião Urbana. Hoje, aos trinta e três anos, consigo entender (apesar de discordar) por que a igreja que eu freqüentava odiava o Renato Russo, em minha opinião a cabeça pensante do grupo. Os profetas
[1] são odiados.

Com exceção da frente, onde há mato, nossa casa provisória é cercada por outras casas. Casualmente, ou não, em todas essas residências há crianças. Uma com aproximadamente seis meses, outra com uns dois anos e ainda outra com talvez cinco ou seis anos de idade. Há algum tempo venho observando-as. Tem sido uma experiência rica.
Outro dia notei que uma delas, um guri, brinca sozinha na maior parte do tempo. Os pais trabalham e a avó dá uma "reparada". Incomodou-me
[2] o fato dele só jogar bola. O dia inteiro. O legal é que ele usa da criatividade; afinal, narra, é o próprio jogador narrado e ainda faz os ruídos de uma torcida imaginária. Em muitos momentos chega a ser cômico assistí-lo xingando a si próprio: - Na traaaveeeee!!!!!!! (vê-se ele fazendo um sinal da cruz e retomando uma jogada).
A outra criança, uma menina. Ela é linda. Eu e a Lu não cansamos de olhá-la e de dizer, embasbacados: - oi!?. Ela nada responde, simplesmente se esconde e de seu esconderijo ouvimos apenas umas acanhadas risadas. O que mais nos impressiona (e positivamente) é o quanto os pais conversam com ela, beijam-na. Não ouço, mas tenho certeza, pelas ações, que essa menina é extremamente amada pelos pais. Em três meses que lá moramos, nunca ouvi uma palavra de desdém, de pouco-caso, dirigida à filha. Só ouvimos palavras de carinho, de ensino, de amor recheadas de afeto. A criança está numa fase em que busca mexer em tudo, quer pegar tudo. Admira-nos a calma, a paciência e a persistência com as quais os pais lidam diariamente com a filhota. Nitidamente nota-se a menina imitando os pais. Assim, é extremamente curioso notá-la cuidando das bonecas e dos filhotes de uma cachorra.


Choro e mais choro é o que ouvimos da terceira criança. É uma raridade escutar aqueles gritinhos típicos de quem está descobrindo a voz, o volume do som, os barulhos dos lábios, da língua, dos dedos na boca etc. O comum é o choro. Parece haver uma única razão para não chorar: ser embalado[3]. Dessa forma, a mãe, e algumas (poucas) vezes o pai, vive para embalar a criança. Não é raro ver-se a criança no colo da mãe - que dá meio passo para frente, meio para trás; ou sentada, mas, empurrando o carrinho de bebê pra frente e pra trás - ad infinitum. A cena cômica fica por conta do pai que, desajeitado, além de imitar a mãe acrescenta um "táa, táa, táa", como se dissesse "calma, filho, calma!".


As três situações põem-me a pensar. E lembram-me de uma outra cena familiar. Uma criança cujos pais conversavam com ela; ainda aconselhavam outros pais a seguirem o seu modelo de criar os filhos. Talvez uma infelicidade: criticavam quem criasse os filhos de outra forma. A criança pequena, que ouvia os pais, cresceu, passou pela adolescência, chegou na fase dos namoros, começou a desafiar os pais - ainda que discretamente. De repente, os conflitos aumentaram e, por fim, o discurso dos pais foi por água abaixo. Então tudo aquilo que seus pais 'pregavam' como sendo modelo foi-se; todo o discurso paterno e materno tornou-se raquítico. Logo, aquele que fora criança será pai/mãe. Logo, o que era pai/mãe deverá refazer o discurso. Todas as teses sobre criação de filhos terão de ser reconstruídas, revistas. Será necessário olhar de um outro ângulo.

Neste 2008, se tudo andar como pretendemos, eu e a Lu seremos pai/mãe. Realizaremos nossa maior obra, teremos uma herança do Senhor. Ela, a criança, será muito, mas muito, benvinda. Na verdade ela já existe em nosso pensamento, muito do que fazemos é imaginado como se tivéssemos um filho ou uma filha. E o que isso tem a ver com as cenas apontadas acima? Aprendizagens.


Como disse, as três situações põem-me a pensar. De um lado parece estar claro que não existem receitas na criação de filhos e filhas. Por outro, contudo, a situação concreta que nos circunda está embebida de exemplos tanto bons quanto ruins.


Enquanto discorro sobre filhos e filhas, a primeira cena parece me previnir que caberá a mim mostrar 'mais' do mundo para meu filho(a). Não me parece uma boa idéia deixá-lo obcecado por futebol sem dizer que há outros esportes. Meu diálogo deverá mostrar o leque de opções esportivas (vôlei, basquete, tênis, padle, botão, futsal, futvôlei, carta, xadrez, dama, turfe, surfe, fórmula 1, entre tantos e tantos outros.) e deixá-lo escolher. Dizer dos benefícios e dos perigos possíveis também parece ser adequado. E, depois disso, se a escolha continuar sendo o futebol terei de respeitar.


A segunda cena mostra-me que a afetividade, o amor, o diálogo, a compreensão, são elementos importantes, lições nunca mais esquecidas pelos pequenos. Continua extremamente vivo em mim os momentos nos quais minha mãe cantava "dorme neném que a cuca vai pegar" ou falava-me, num tom inconfundível: "óh, o mamá, filhinho da mamãe". Também lembro dos poucos momentos em que passeei com meu pai. Quero dizer que, apesar da correria pela sobrevivência, deveríamos prestar mais atenção ao desenvolvimento afetivo-cognitivo dos pimpolhos. Eles serão nosso reflexo (mudarão com o passar dos anos, é verdade, mas poderão sofrer ao longo desse processo). Quando um casal lida de maneira equilibrada (sem estardalhaços, sem gritaria) com os filhos(as), estes fazem o mesmo enquanto brincam. Além de conhecer amigos que assim agem, trabalho numa escola e observo - na prática - o que estou afirmando.


Encontro um dilema, porém, na terceira cena. Sempre que estou em casa, angustio-me com a mãe e com o pai, que simplesmente não vivem. Aí está o problema: os pais não vivem. Quem vive é a criança. Ela chora, esperneia, ri; se esbalda com a ingenuidade dos pais. No lugar deles, faria uma checagem médica para me certificar de que o filho(a) está bem, em seguida, o(a) deixaria chorando por um bocado de tempo - até ela começar a construir (conforme Piaget) a ideia de que a'balda' para nada serve. Ou seja, os pais precisam viver. Criar o filho com todo o amor e carinho, sem dúvida; mas sem escravismo. Porque do contrário ter filhos(as) passa a ser um sacrilégio, um tédio, uma chatice, uma punição divina, um carma. É preciso muita reflexão e diálogo entre os cônjuges até chegar-se ao mínimo de equilíbrio entre as três cenas.


Mas ainda temos uma quarta cena aludida no sexto parágrafo. Trata-se daquele que um dia foi criança e que, portanto, tem construído um discurso, possui uma ideologia da vida. Embora saibamos que muito será agregado a sua experiência, também sabemos que já há uma cosmovisão. Ele ou ela já têm condições de dizer sim ou não para muitas inquirições cotidianas.


Adentramos, agora, no que parece ser o foco divino. A meu ver, dentre outras interpretações possíveis, a "herança do Senhor" pode ser as contradições - conscientes ou inconscientes - que a criação dos filhos(as) trará. E mais, ela será sempre, digamos, explosiva, espantosa. O relato de uma mãe - ao dar à luz um filho - é sempre imaginando um cenário explosivo, espantoso. E feliz, claro! Quando um pai conta que seu filho ou sua filha disse "táta" (e ele entendeu como sendo pai ou papai) esse relato vem fortemente marcado pela emoção. E essa sentimentalidade (lembrando Eça de Queiróz) se estende para o resto dos dias paternos e maternos. Não é à toa que um sujeito com trinta anos nas costas é chamado carinhosamente de "minha criança", "meu neném". É a "herança do Senhor". Mas nem tudo é festa.


Essa mesma herança que retratei positivamente, às vezes torna-se uma explosão e um espanto nem tão positivos assim. Isso porque a maravilhosa herança do Senhor não se coaduna exatamente com aquilo que queremos ou esperamos. Assim, queremos um filho artista (plástico, músico, fotógrafo, ator etc); ele opta por ser professor. Esperamos que a filha case virgem; ela engravida antes. Queremos que o filho ou a filha respeite todas as regras combinadas; ele ou ela resolve fazer exatamente o contrário. Há outros tantos exemplos que por ora não me ocorrem. O certo é que o dantes positivo passa a ser visto como negativo, pelo menos até que mudemos nossos parâmetros avaliativos.


Tenho a impressão, pelo dito até aqui, que o desejo divino é que vivamos em novidade de vida. Que aproveitemos cada momento por Ele dado para experimentar a vida na sua profundidade, na sua beleza e feiura, nas contradições, nas alegrias e tristezas. Tendo a consciência de que "os filhos são heranças do Senhor" parece ser menos difícil rever nossos conceitos, e pré-conceitos.
Exercendo a maternidade e a paternidade (porque tanto o homem quanto a mulher, no meu entender, exercem exatamente as duas funções - guardadas as devidas proporções) temos a oportunidade, dada por Deus, de entender o Divino um pouco mais. Com uma criança por perto torna-se mais fácil entender o que Cristo quis dizer quando nos sugeriu sermos como uma criança. A maneira como reagimos diante dos erros dos filhos pode ser um reflexo de como Deus agiria conosco e também de como Ele não agiria.


Será que Deus possui um livro de receitas sobre a criação de filhos? Será que Deus não compreende o ser humano? Por que Deus criou um mundo e nós o 'enfeiamos' nos sentindo melhores que Ele? Por que doía tanto quando apanhávamos e agora parece que gostamos de bater? E por que bater é mais fácil que conversar? E Deus não diz nada, por quê? Ou Ele diz e não estamos sabendo ouvir? O que a criação divina diz sobre criar/educar filhos? O que dizem os "Tiba's" da vida? O que diz a Bíblia? O que diz a prática? E os que dizem, como criam os próprios filhos? Como um pai ou uma mãe diz que cria seu(s) filho(s)? E como um filho se vê sendo criado? Que tal se perguntássemos como um filho agiria em determinadas situações de sua criação?

Deus é tão maravilhoso que nos dá uma herança para que tenhamos uma pitada de idéia sobre o trabalho que lhe damos. Seu jeito de lidar conosco é multiforme, não há receitas. Sobretudo, a maior maravilha é sabermo-nos amados por Ele. Eu sou feliz com essa real boa-nova. Espero um dia refletir Deus para meu filho ou minha filha.


Enquanto isso, permitam-me encerrar esse texto com um trecho da clássica música Pais e Filhos do "profeta Renato Russo": ...é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque, se você parar pra pensar, na verdade não há...



Ora vem, meu filho ou minha filha!!!









[1]Antes que os exegetas e teólogos de plantão queiram meu corpo queimado, explico que o termo profeta deve ser entendido no sentido conotativo, ou seja, aquele que anuncia/denuncia nossas mazelas. Sugiro a esses plantonistas que comecem a ouvir a obra da Legião, bem como o trabalho solo do Renato. A música Pais e Filhos tem muito para refletirmos.
[2]Força de expressão, claro, uma criança tem mais é que brincar mesmo. E muito! Aristóteles já dizia: "brinque que possas ser sério".
[3]Balançar (a criança) para acalmá-la ou fazê-la dormir. 'Minidicionário Gama Kury da Língua Portuguesa', São Paulo, FTD, 2001.



ILUSTRAÇÃO


Ilustração de Eva Furnari para o seu livro ADVINHE SE PUDER, 2.ed. Ed. Moderna, 2002.

resenha 08-1 - LOUVOR QUE LIBERTA


Levi Nauter




Acabo de ler um livro (esse não merece ser chamado de obra) que há muito buscava. Uma publicação antiga, de 1976, que meus amigos não possuíam para me emprestar. Trata-se de Louvor que liberta, do Capelão Merlin R. Carothers, publicado pela Edições Loyola. Tê-lo nas mãos foi uma bela surpresa. Principalmente pela forma como ele me chegou. Estava numa biblioteca pública onde sou sócio e, de repente, fui dar uma espiada numa espécie de balaio de obras, por assim dizermos, descartadas pela bibliotecária – ou por quem seleciona o acervo.
Terminada a leitura, se pudesse, parabenizaria quem fez isso.
O título do livro sempre chamou minha atenção. Libertação é um tema que faz parte de minhas leituras, essencialmente ligadas à educação, área em que atuo profissionalmente. Considero que ao mesmo tempo em que libertamos o outro vamo-nos (re)libertando de outras prisões – algumas conscientes, outras nem tanto. Continuo considerando que o louvor liberta, sim. Ele é uma poderosa arma contra a opressão diabólica, mas também contra a opressão religiosa. Penso que o louvor liberta justamente por nos pôr em contato direto com Deus, sobretudo, um contato na forma primária da criação: fomos feitos para o Seu louvor. Mas há um hiato considerável entre o que penso sobre louvor e o que o autor da obra em questão acha. Para mim, louvor sempre extrapola a música e o agradecimento, sempre transcende convenções humanas.
Para Carothers, louvor está muito mais para confiar passiva e acriticamente em Deus, ou seja, prega-se – nas entrelinhas – o fatalismo. Essa é a razão da minha aversão ao livro. Mas tem mais.
Tal como muitos outros livros, esse não tem nenhuma relevância ao cristianismo. Os oito capítulos simplesmente relatam as peripécias do autor antes e depois de sua conversão. Pior que isso, as aventuras de Merlin como não-cristão são mais interessantes do que os auto-elogios discorridos ao longo de aproximadamente oitenta e nove páginas. Talvez ainda mais massante seja uma nem tão velada pretensão de conversar téte-a-téte com o Todo-Poderoso. Este, pois, é quem vai dando as ordens ao capelão supercrente. Entre elas o ‘louvor passivista’ (não confunda com pacifista). A partir daí é que vamos lendo uma série de coisas como [segundo o autor, o próprio Deus falou enquanto seu automóvel apresentava problemas]: “Filho, eu queria que você soubesse que nunca deve temer que alguém possa se aproveitar de você. (...) eu resolvo todos os pequenos problemas da vida.” (p. 68)
Na página seguinte, mais uma: [Deus, segundo o autor] “Por que não experimenta louvar-me pela dor de cabeça? (...) Comecei a elevar meus pensamentos a Deus em ação de graças porque Deus estava me dando aquela dor de cabeça...”. na página 71 o autor titubeia sobre a cura para uma senhora e logo tenta se recuperar. Acompanhemos:
“Mas Deus me curou, insisti.
“Então, por que está fungando?
“Não sei, mas Deus sabe, e eu o louvo por isso”. (p. 71)
As citações até aqui são do sétimo capítulo no qual ele diz que Deus falava diretamente com seu espírito. O oitavo capítulo é uma continuação dessas conversas com Deus – só que agora para com outras pessoas. Então o encontramos dando conselhos para a mulher de um soldado que iria para a Guerra: “- agradeça a Deus!” (pp. 72-76), entre outros exemplos que mais parecem para aparecer do que compartilhar sobre louvor.

Há outras inconveniências no livro. Ele me pareceu mal traduzido, como é antigo talvez valha um perdão. Porém, ideologicamente é triste. No quarto capítulo o autor demonstra preconceito com as mulheres ao desconfiar que Deus possa usá-las (p. 35). No final do capítulo (p. 38) faz algo pior (muito comum em alguns animadores de circo travestidos de ‘ministros de louvor’): “olhei para a querida irmã com quem momentos antes tinha antipatizado e compreendi que a amava.” Bela falácia. Há preconceito étnico, quando o autor diz, sem rodeios: “perto do oficial estava um sargento de cor” (p. 53). Não é possível não falar de uma arrogância que também assola muita liderança igrejeira que se sente acima de qualquer suspeita. Carothers não fugiu a regra e tasca sua pseudosuperioridade: “sentia um mal-estar quando estava perto de certas pessoas. Orei a respeito e recebi uma forte impressão de que o que havia de errado com elas era de natureza demoníaca.” (p. 86)

O que mais me impressionou negativamente foi seu discurso bélico. A apresentação do livro deixa essa intenção bem clara. “Este livro relata a história do Cel. Carothers, que de jovem rebelde chegou a capelão do Exército dos Estados Unidos...”. Lamentável, profundamente lamentável considerar-se que ser capelão daquele exército seja uma bênção; admitiria que seja um bom emprego, e só. Mas o discurso norte-americano é belicoso por natureza. E nas páginas iniciais isso fica claro, recheado com inutilidades. Senão vejamos dois exemplos:
[de inutilidade] “Meu trabalho era aparar e esmerilhar aço. Não era muito agradável, mas ajudou-me a conservar a forma física. Estar em boas condições f~isicas significava estar capacitado para a corrida deste mundo a qual eu não queria perder por nada.” (p. 10)

[belicosidade] “Queria entrar em ação na guerra, e quanto mais perto da linha de fogo, melhor (...) Pelo modo como as coisas iam, calculei que ia perder o bom da coisa, e ficar lavando panelas até o fim da guerra.” (p. 11)


Parece haver uma proposital acriticidade quanto ao resto do mundo, quanto aos nefastos resultados de uma guerra. Isso não importa, para os supercrentes americanos (do norte, da América) Deus está com eles. O resto é do diabo, é inimigo. Muito bem afirma o uruguaio Eduardo Galeano
[1], há um teatro do bem e do mal. E nessa, o bem é sintetizado pela sigla EUA e o mal é todo o resto. O sexto capítulo é a consagração de que o livro não presta. “Vietnam” (sic) é o título.
Carothers descreve uma série de conversões a bordo do navio que seguia para o Vietnã. Orações, estudos bíblicos, testemunhos e outras pirotecnias estão descritas para enlevar a sabedoria americana e para demonstrar o quanto Deus estava com eles. Paradoxalmente, o Deus da paz nunca questionou por profecia ou profetada aquela Guerra. O Deus da paz estava mais interessado no mundinho da América. O capelão estava como queria “no grosso da batalha, junto com os fuzileiros” (p. 57). Deus se confundiu com o ‘american dreams’. “Várias vezes vi evidências da mão de Deus protegendo seus filhos. Quando confiamos nele, nenhuma força da terra pode tocar-nos se não for da sua vontade”. (p. 57 – grifo meu).
Com Carothers, Deus tornou-se americano. Resta-nos nessa perspectiva o sofrimento eterno, o pranto, o ranger de dentes, ler livros de autores norte-americanos dando-nos receitas; resta-nos dizer “tende piedade de nós assim como tens com os americanos”.
Termino com o triunfo do bem sobre o mal. Mal aqui são os vietcongs.

“...o major conseguiu controlar-se e contou-me uma história surpreendente.
Algumas horas antes ele estivera a bordo de um helicóptero, o qual fora atingido por artilharia anti-aérea e caíra na floresta. Os seis homens haviam sido atirados longe, na encosta de uma colina. Quando voltou a si, o major viu que estava ferido demais para se mover. À distancia ouviu tiros de rifle. Os vietcongs estavam se aproximando da área onde tinham visto o helicóptero cair. Estavam chegando para capturar os americanos.
De repente, o major compreendeu que aquilo era o fim. Os inimigos não iriam carregar americanos feridos. Iriam provavelmente torturá-los até a morte. (...) Numa explosão de angústia e com uma fé nova clamou: “Ó Deus, por favor, ajuda-me!” Percebeu que pela primeira vez em sua vida havia conversado com Deus. Contudo, ainda ouvia os vietcongs se aproximando.” (p. 59 – grifos meus)

A história termina com os americanos sendo salvos por outro helicóptero (quiçá divino) e os vietcongs (os diabólicos) atirando nos queridos. Ao chegarem à base salvos, o major disse querer servir a Deus por toda a sua vida (p. 60). Provavelmente serviu ao exército americano da salvação.

Terminei a leitura com muita raiva. E quando reli a introdução decidi colocá-lo na lata do lixo, após encontrar a seguinte propaganda (na p. 7): “Chegou a ocupar o primeiro lugar entre os best-sellers evangélicos nos Estados Unidos. (...) Só houve uma coisa para recomendá-lo aos possíveis leitores – o conteúdo.”
Definitivamente, se conselho fosse bom não se daria.






[1] GALEANO, Eduardo. O teatro do bem e do mal. Trad. de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2006

EM FÉRIAS

Levi Nauter
Estou curtindo umas merecidas férias. Passeios com a esposa, muita música, muita leitura. Estudos visando o aperfeiçoamento de minha profissão e alguns “biscates” como carregador de terra na construção de minha casa.

Contudo, em alguns momentos estou escrevendo para postar neste blog a partir da segunda quinzena de fevereiro.

Até lá.

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Para pensar e refletir sobre o cotidiano de um cristianismo que transcende as quatro paredes de um templo.


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LEVI NAUTER DE MIRA, doutorando em educação (UNISINOS), mestre em educação (UNISINOS) e graduado em Letras-português e literatura (ULBRA). Tenho interesse em livros de filosofia, sociologia, pedagogia e, às vezes, teologia. Sou casado com a Lu Mira, professora de História, e pai da linda Maria Flor. Adoramos filmes e séries.

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