Levi nauter
Num dia desses, enquanto curtia meus últimos dias de descanso, num bonito centro de compras encontrei algumas queridas pessoas que não via fazia pelo menos uns quatro anos. Cumprimentamo-nos, alegres, houve uma fraternidade que não se encontra com qualquer pessoa. De repente, uma pergunta desconcertante:
“- Vocês estão congregando aonde?”. “Em lugar nenhum”, respondi, “consideramos que, devido a algumas circunstâncias, o melhor seria ficar de fora, por enquanto”.
Já em casa, comecei a refletir tanto na pergunta quanto na minha resposta. Devo repetir para ratificar que a cena foi-me desconcertante. Sempre que falo com algum cristão-evangélico simpatizante do pentecostalismo ou pertencente a essas ‘igrejolas’ advindas de movimentos pentecostais (pessoas que se rebelaram, saíram de uma denominação e criaram outra nos mesmos moldes) fico esperando alguma pergunta que vá pelo caminho já descrito. Infelizmente, ainda parece ser importante estar ligado a alguma denominação – de preferência uma dessas famosas, com programa em uma rádio AM ou FM ou, melhor será, na TV.
Sinto muito, não atendo a essas exigências. E se depender de mim tão cedo isso não acontecerá. Por isso resolvi escrever sobre minha descongregação.
A minha saída da Assembléia de Deus e da Igreja Batista (CBN) não está atrelada a uma decepção pessoal com alguém; tampouco tem a ver com alguma decepção com Deus. Minha relação com as pessoas sempre foi calcada na racionalidade, no bom senso, no respeito, na responsabilidade, na autonomia alheia e no direito às diferenças. Dos seres humanos nunca esperei mais do que respeito. Quero ser respeitado e ponto, porque é isso que faço. Nisso não há negociação. As pessoas, portanto, sempre me respeitaram; as que agiram diferentes, simplesmente foram ignoradas. Parece-me o único jeito de se viver mais tranquilamente num mundo conturbado. Tenho uma relação respeitosa com todas as pessoas das denominações pelas quais passei. Porque fui músico durante anos, conheço e tenho contato com muitas pessoas, algumas das quais até merecem o título de irmão e irmã.
Minha relação com Deus, então, tem sido cada vez melhor. Ele sempre respeita a decisão de seus filhos, decisão que sempre vem acompanhada das conseqüências – como qualquer outra relação. Talvez o grande diferencial seja a graça divina, incomparável em termos humanos.
Saí da igreja porque ela, nos moldes atuais, não me apetece, não me atrai, não alivia meus fardos nem torna suave meu jugo. Indo a um templo é mais fácil emburrecer. Lá, subestimam minha capacidade de inteligência. Os discursos são sempre os mesmos, os textos bíblicos idem. Esqueceram os evangelhos, se agarram assustadoramente ao que lhes interessa no Antigo e no Novo Testamento. Pedido de dinheiro e falação sobre pecado, pecado e pecado é o que pensam saber. E o pecador e o ‘mão-fechada’ são sempre os fiéis; nunca ouvi um sermão no qual o líder admita que erre, que é pecador. Parecem estar num determinado patamar acima dos fiéis.
A música é pobre, os ministros só sabem imitar. Se há alguma riqueza, ela vem do exterior (em língua inglesa, de preferência) e é empobrecida por pseudotraduções. O sermão é uma tristeza, a oração é ensaiada e os milagres uma aberração. Concordo com o pastor Gondim: “Eles dão a entender que Deus se especializou em curar caroço, dor no braço, mal estar em velhinhas, mas se esqueceu das síndromes de Down, das paralisias cerebrais e das quadriplegias. Sou mortal, finito e bastante pecador, mas posso afirmar que se fosse Deus, com disposição para operar maravilhas, eu escolheria os mais carentes, os mais desamparados, os mais doloridos.”
Nenhuma programação evangélica (pelo menos no Rio Grande do Sul) trabalha com a inteligência. Chacrinha parece até profeta, nada mais se cria, tudo se copia. E a cópia que vale é aquela que, no original, foi escrita em inglês. Inclusive aqueles que protestam. Afinal, quanto artigos já foram escritos que dizem o que Brian McLaren vem dizendo? Ocorre que um vem do norte e os outros são santos de casa. Brian é uma espécie de respaldo para o brasileiro dizer coisas parecidas sem ser rechaçado.
Para se viver bem é melhor desligar-se da igreja. O melhor é ouvir muita música brasileira para buscar a beleza da poesia (claro que isso não está em tudo). Visitar museus, galerias de arte, ir ao teatro, ao cinema. Fazer um almoço, um café ou uma janta com alguns amigos. Namorar bastante, ler muuuuuuiiiiiittto. Curtir a natureza, conversar com o máximo de pessoas possíveis, não se envolver com a política-partidária (embora dela saber o máximo). Orar, cantarolar. Ser honesto, ter vergonha na cara, honrar os compromissos, trabalhar, estudar, meditar, dormir. Não dicotomizar céu e terra, mundo e mundo.
Tento esquecer a igreja, por ora. Há mais o que se fazer de bom. Deus não me ama porque vou à igreja toda semana, todo mês, todo ano. Ele me ama porque assim Lhe aprouve. E como é bom saber-me amado por Ele!!! Nada mais importa.
É fora da igreja que a liberdade existe. É fora dela que a gente vive sob os domínios do Espírito. Não fica aquele líder enchendo: “faça isso, não faça aquilo”. É fora que podemos viver sem receitas. Também é lá que somos confrontados no cotidiano. Num templo, em geral, só há concordâncias; as divergências ficam escondidas, sob panos quentes, disfarçadas de submissão ou cobertura espirituais. Que balela!
A instituição igreja deveria morrer. Enquanto ela existir precisará ser sustentada e nós seremos cerceados e intimidados a sustentar um sistema que move cifras milionárias. O pior vermos ‘profetas’ sem nenhuma timidez pedindo dinheiro (ajuda) ao mesmo tempo em que oferecem seus produtinhos – fruto exatamente do dinheiro alheio. Ou será que toda essa gente já nasceu nadando em dinheiro?
Prefiro o evangelho de Cristo mais interessado no tete-a-tete do que em grandes concentrações de fé (ou feses?).
Cansei de igreja, não de Deus. Este é a razão de eu estar vivo.
Glórias a Deus!
“- Vocês estão congregando aonde?”. “Em lugar nenhum”, respondi, “consideramos que, devido a algumas circunstâncias, o melhor seria ficar de fora, por enquanto”.
Já em casa, comecei a refletir tanto na pergunta quanto na minha resposta. Devo repetir para ratificar que a cena foi-me desconcertante. Sempre que falo com algum cristão-evangélico simpatizante do pentecostalismo ou pertencente a essas ‘igrejolas’ advindas de movimentos pentecostais (pessoas que se rebelaram, saíram de uma denominação e criaram outra nos mesmos moldes) fico esperando alguma pergunta que vá pelo caminho já descrito. Infelizmente, ainda parece ser importante estar ligado a alguma denominação – de preferência uma dessas famosas, com programa em uma rádio AM ou FM ou, melhor será, na TV.
Sinto muito, não atendo a essas exigências. E se depender de mim tão cedo isso não acontecerá. Por isso resolvi escrever sobre minha descongregação.
A minha saída da Assembléia de Deus e da Igreja Batista (CBN) não está atrelada a uma decepção pessoal com alguém; tampouco tem a ver com alguma decepção com Deus. Minha relação com as pessoas sempre foi calcada na racionalidade, no bom senso, no respeito, na responsabilidade, na autonomia alheia e no direito às diferenças. Dos seres humanos nunca esperei mais do que respeito. Quero ser respeitado e ponto, porque é isso que faço. Nisso não há negociação. As pessoas, portanto, sempre me respeitaram; as que agiram diferentes, simplesmente foram ignoradas. Parece-me o único jeito de se viver mais tranquilamente num mundo conturbado. Tenho uma relação respeitosa com todas as pessoas das denominações pelas quais passei. Porque fui músico durante anos, conheço e tenho contato com muitas pessoas, algumas das quais até merecem o título de irmão e irmã.
Minha relação com Deus, então, tem sido cada vez melhor. Ele sempre respeita a decisão de seus filhos, decisão que sempre vem acompanhada das conseqüências – como qualquer outra relação. Talvez o grande diferencial seja a graça divina, incomparável em termos humanos.
Saí da igreja porque ela, nos moldes atuais, não me apetece, não me atrai, não alivia meus fardos nem torna suave meu jugo. Indo a um templo é mais fácil emburrecer. Lá, subestimam minha capacidade de inteligência. Os discursos são sempre os mesmos, os textos bíblicos idem. Esqueceram os evangelhos, se agarram assustadoramente ao que lhes interessa no Antigo e no Novo Testamento. Pedido de dinheiro e falação sobre pecado, pecado e pecado é o que pensam saber. E o pecador e o ‘mão-fechada’ são sempre os fiéis; nunca ouvi um sermão no qual o líder admita que erre, que é pecador. Parecem estar num determinado patamar acima dos fiéis.
A música é pobre, os ministros só sabem imitar. Se há alguma riqueza, ela vem do exterior (em língua inglesa, de preferência) e é empobrecida por pseudotraduções. O sermão é uma tristeza, a oração é ensaiada e os milagres uma aberração. Concordo com o pastor Gondim: “Eles dão a entender que Deus se especializou em curar caroço, dor no braço, mal estar em velhinhas, mas se esqueceu das síndromes de Down, das paralisias cerebrais e das quadriplegias. Sou mortal, finito e bastante pecador, mas posso afirmar que se fosse Deus, com disposição para operar maravilhas, eu escolheria os mais carentes, os mais desamparados, os mais doloridos.”
Nenhuma programação evangélica (pelo menos no Rio Grande do Sul) trabalha com a inteligência. Chacrinha parece até profeta, nada mais se cria, tudo se copia. E a cópia que vale é aquela que, no original, foi escrita em inglês. Inclusive aqueles que protestam. Afinal, quanto artigos já foram escritos que dizem o que Brian McLaren vem dizendo? Ocorre que um vem do norte e os outros são santos de casa. Brian é uma espécie de respaldo para o brasileiro dizer coisas parecidas sem ser rechaçado.
Para se viver bem é melhor desligar-se da igreja. O melhor é ouvir muita música brasileira para buscar a beleza da poesia (claro que isso não está em tudo). Visitar museus, galerias de arte, ir ao teatro, ao cinema. Fazer um almoço, um café ou uma janta com alguns amigos. Namorar bastante, ler muuuuuuiiiiiittto. Curtir a natureza, conversar com o máximo de pessoas possíveis, não se envolver com a política-partidária (embora dela saber o máximo). Orar, cantarolar. Ser honesto, ter vergonha na cara, honrar os compromissos, trabalhar, estudar, meditar, dormir. Não dicotomizar céu e terra, mundo e mundo.
Tento esquecer a igreja, por ora. Há mais o que se fazer de bom. Deus não me ama porque vou à igreja toda semana, todo mês, todo ano. Ele me ama porque assim Lhe aprouve. E como é bom saber-me amado por Ele!!! Nada mais importa.
É fora da igreja que a liberdade existe. É fora dela que a gente vive sob os domínios do Espírito. Não fica aquele líder enchendo: “faça isso, não faça aquilo”. É fora que podemos viver sem receitas. Também é lá que somos confrontados no cotidiano. Num templo, em geral, só há concordâncias; as divergências ficam escondidas, sob panos quentes, disfarçadas de submissão ou cobertura espirituais. Que balela!
A instituição igreja deveria morrer. Enquanto ela existir precisará ser sustentada e nós seremos cerceados e intimidados a sustentar um sistema que move cifras milionárias. O pior vermos ‘profetas’ sem nenhuma timidez pedindo dinheiro (ajuda) ao mesmo tempo em que oferecem seus produtinhos – fruto exatamente do dinheiro alheio. Ou será que toda essa gente já nasceu nadando em dinheiro?
Prefiro o evangelho de Cristo mais interessado no tete-a-tete do que em grandes concentrações de fé (ou feses?).
Cansei de igreja, não de Deus. Este é a razão de eu estar vivo.
Glórias a Deus!
1 comentários:
parabéms, isso é o que eu precisso fazer, estou orando para que Deus me oriente,eu sei que como igrejá não posso ficar fora do corpo de Cristo, quero congregar fora das quatro paredes, sem clero, estava pensando em congregar com os irmãos:
(assembleia de irmãos reunidos somente ao nome do Senhor), mas percebi que as irmãs usam o vêu de pano ou um chapéu na adoração, e lendo esta informação site- http://www.blues.lord.nom.br/estudos-biblicos-evangelicos-the-lord-church-bible-study/novo-testamento-new-testament/46-carta-1corintios/1co11-uso-do-veu-pelas-mulheres.shtml, pode perceber que ainda não tenho onde congregar fora do sistema.
será que Mario Persoma que tanto fala para que saiamos do sistema Judaico que as religiões e seus monumentos deram seguimento, não percebe que este trapinho de pano também foi abolido?
fique na paz.
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