Um folheto de (pseudo)evangelismo ontem. Mas ela não se converteu. Uma professora de (...) não se rende assim tão facilmente a um folheto, ainda mais com as características daquele.
Chegou em casa, entregou-me a 'joinha'. Também não me converti. Sou um osso duro e minha idade já não me deixam encurvar para qualquer foto ou mensagem.
Um homem de branco em meio a uma multidão. Os braços abertos. Seu nome inscrito em letras notáveis. A menção a Deus era apenas um subterfúgio para falar de si. A multidão nada falava, não retrucava, era inquestionável. Qualquer coisa dita ressoava sem anti-inculcação. A multidão era feita de muletas, cadeiras de rodas e aparelhos ortopédicos. O homem de branco é o missionário que fala aos inertes.
Todos nós sabemos que Deus é amor. Não carecia uma igreja com esse nome. Só Deus é soberano, não precisa aparecer o nome do missionário em todas placas de igrejas. Tampouco é necessário saber que existe um templo – feito com vários e vários dez por cento – com nome pomposo. Mas há líderes que precisam ser necessários. Quando é preciso colocar num folheto as fotos de um cara 'pregando' para cadeiras de rodas é porque a coisa está feia. Lógico que tanto o líder quanto os seus seguidores (nem sempre fiéis) não vão admitir que algo está podre. Mas há algo de podre no Reino de Deus e a culpa não é do Todo-Poderoso.
Os doentes são os membros dessas igrejas. Esses aparelhos de deficiência escondem a deficiência interna. A falta de discernimento, a falta de usar aquilo que Deus nos colocou e que só nosso: a massa encefálica. A muleta, a cadeira de roda, podem ser a falta de autonomia. Mas a muleta e cadeira de roda continua de modo invisível. A cadeira de rodas passa a ser o banco da igreja que me exige sentar diariamente em três 'grandes concentrações'. A muleta passa a ser a dependência na fala do tal líder. Despojo-me da minha sagrada autonomia, do meu divino livre-arbítrio para virar papagaio. Minha fala passa a ser o eco do meu missionário. Que tristeza!!!
Em vez de ser apenas um doente, morro; desfaço de mim. Eu não sou mais eu, o líder vive em mim. Passo a morar no mundo, mas não me considero desse mundo. Mais que isso: o mundo que se dane, que se exploda. Todo o resto (pessoas que pensam diferente, o meio ambiente etc.) passa a ser 'Soraia'. Meu 'hino' preferido? “Eu quero ver Soraia queimada...”. Voto por votar, desmato meu terreno e deixo minha casa toda calçada. Não ouço música do mundo. Não uso roupa do mundo. Não compactuo com esportes, nem com humor, nem com leituras para além da Bíblia. Adoro catástrofes, amo fogo. Fico feliz em ver pessoas morrendo – aqui no meu país ou no exterior (essa gente incrédula não tem serventia). Quero aproveitar o êxtase do provir no agora: grito histericamente quando meu líder fala, ou – se não grito – sigo suas intruções ipsis literis; não entendo bulhufas o que ele diz, mas é o que quero ouvir. Para mim o viver é o meu líder. Sua espiritualidade me atrai, tudo nele me atrai. Sou tarado por ele. Morri por ele. Vivo na sombra.
Santa ironia...
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